Cotrijuí: do auge à liquidação judicial

 



Em 2025, a Cotrijuí completaria 68 anos. A cooperativa, que já foi uma das maiores do setor tritícola no Brasil, chegou a ser a segunda maior empregadora de Dom Pedrito em seu auge, ficando atrás apenas da prefeitura. Ou seja, foi a maior empregadora da iniciativa privada no município.

Além de sua contribuição para o agronegócio, a Cotrijuí também teve um papel social relevante, expandindo suas áreas de atuação e proporcionando crescimento profissional a seus funcionários. No entanto, mesmo nos tempos de maior prosperidade, já havia relatos preocupantes sobre problemas de gestão. A partir dos anos 2000, começaram a surgir dificuldades administrativas e de fluxo de caixa, que se agravaram até 2018, quando a cooperativa foi alvo de uma ação do Ministério Público, acompanhada de denúncias contra seus dirigentes.

A "tampa no caixão" veio com a liquidação judicial. Por se tratar de uma cooperativa, a Cotrijuí não poderia decretar falência, mas seus bens passaram a ser utilizados para o pagamento de credores. Dívidas milionárias, patrimônio oculto, desvios de caixa e de grãos foram alguns dos escândalos revelados nos últimos anos, muitos deles formalmente denunciados e alguns já resultando em condenações.

Em 2024, teve início o pagamento dos credores da cooperativa, priorizando aqueles com dívidas trabalhistas a receber. No entanto, não se sabe se os ex-funcionários de Dom Pedrito já foram pagos, visto que muitos foram demitidos sem receber seus vencimentos. Atualmente, a antiga área administrativa da Cotrijuí está sendo utilizada por uma transportadora, enquanto a área industrial foi alugada para uma empresa de armazenagem de grãos. O frigorífico, por sua vez, está em ruínas. Ele foi desativado oficialmente em 2015, quando diversos trabalhadores foram dispensados.

A reportagem do Folha tentou obter informações sobre a situação atual da Cotrijuí, mas foi informado apenas que, após tramitação no Tribunal de Justiça, a liquidação judicial segue em andamento de forma gradual. Hoje, as únicas partes da cooperativa que ainda operam de maneira relativamente estável são o frigorífico de suínos em São Luiz Gonzaga e os supermercados, que continuam sob gestão judicial.

Quanto à subutilização da estrutura, há o entendimento de que a venda dos ativos seria o caminho mais viável, mas não há indícios de que isso ocorra no curto ou médio prazo. Enquanto isso, a antiga Cotrijuí, que um dia foi parte essencial da economia de Dom Pedrito, tornou-se apenas uma lembrança — um testemunho do que já foi e do que poderia ter sido, caso não houvesse erros administrativos e até mesmo crimes cometidos por alguns de seus dirigentes.


*** Conteúdo publicado originalmente na versão impressa

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